sábado, 28 de junho de 2008

Pulo!





Performance apresentada em Dezembro de 2006, por Isabella Santana e Rogério da Silva, na caixa d'agua da UNICAMP(Universidade Estadual de Campinas), em homenagem ao suicida que se atirou dela, Everaldo Junior.

Sobre o Suicídio
Antes de me suicidar exijo que me assegurem a respeito do ser, eu gostaria de estar seguro a respeito da morte. A vida me parece apenas como um consentimento à legibilidade aparente das coisas e à sua ligação no espírito. Eu não me sinto mais como a encruzilhada irredutível das coisas, a morte que cura, cura ao nos separar da natureza; mas se eu não sou mais que um divertimento de dores onde as coisas não passam? Se eu me mato, não será para me destruir, mas para me reconstituir, o suicídio não será para mim senão um meio de me reconquistar violentamente, de irromper brutalmente em meu ser, de antecipar o avanço incerto de Deus. Pelo suicídio, eu reintroduzo meu desígnio na natureza, eu dou pela primeira vez às coisas a forma de minha vontade. Eu me livro deste condicionamento de meus órgão tão mal ajustados com meu eu e a vida não é mais pra mim um acaso absurdo onde eu penso aquilo que me dão a pensar. Eu escolho então meu pensamento e a direção de minhas forças, de minhas tendências, de minha realidade. Eu me coloco entre o belo e o feio, o bom e o malvado. Eu me torno suspenso, sem inclinação, neutro, exposto ao equilíbrio das boas e das más solicitações...É certamente algo abjeto ser criado e viver e sentir-se nos mínimos recônditos, até nas ramificações mais impensadas de nosso ser irredutivelmente determinado. Não somos mais do que árvores, no fim de contas, e está provavelmente inscrito em uma extremidade qualquer da árvore de minha raça que eu me matarei um determinado dia...Pode ser que nesse instante se dissolva o meu ser, mas se ele permanecer inteiro, como reagirão meus órgãos arruinados, com que impossíveis órgãos registrarei eu o dilaceramento? Eu sinto a morte sobre mim como uma torrente, como o salto instântaneo de um raio cuja capacidade eu não imagino...Mas eis Deus de repente como um punho, como um feixe de luz cortante. Eu me separei voluntariamente da vida, eu quis remontar meu destino! E este Deus, o que diz ele? Eu não sentia a vida, a circulação de toda idéia moral era para mim como um rio seco. A vida não era para mim um objeto, uma forma; ela se tornara para mim uma série de raciocínios. Mas de raciocínios que giravam no vazio, de raciocínios que não giravam, que eram em mim como "esquemas" possíveis que minha vontade não conseguia fixar...Deus me colocou no desespero como em uma constelação de impasses cuja radiação chega a mim. Eu não posso nem morrer, nem viver, nem desejar morrer ou viver. E todos os homens são como eu.
Antonin Artaud (Linguagem e Vida).

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